SEGUNDA-FEIRA, 20 DE JUNHO DE 2016

Péri retorna ao samba em álbum em que exprime saudade e vivência da Bahia
Resenha de álbum
Título: O eterno retorno
Artista: Péri
Gravadora: Baticum Discos
Cotação: * * * *

♪ É coerente que Péri tenha incluído os sambas Eu vim da Bahia (Gilberto Gil, 1965) e Saudade da Bahia (Dorival Caymmi, 1957) no repertório majoritariamente inédito e autoral do oitavo álbum do artista, O eterno retorno.  Neste disco, gravado entre fevereiro e março deste ano de 2016 com produção capitaneada pelo próprio Péri, o cantor e compositor baiano – radicado na cidade de São Paulo (SP) desde meados da década de 1990 – exprime vivências e saudades da terra natal. Gravitando em torno do samba, ritmo de músicas como Canta (Péri, 2016), Coração elétrico (Péri, 2016) e Meu santo (Péri, 2016), o repertório expressa o sentimento que há no cíclico movimento de ir e vir, tema explicitado numa das composições mais inspiradas do disco, Um dia eu vou me embora(Péri, 2016), e também no interiorizado samba-canção Pequenas lembranças (Péri, 2016). Composição inspirada na narrativa de Mar morto (1936), um dos livros mais míticos da obra literária do icônico escritor baiano Jorge Amado (1912 – 2001), Corre saveiro (Péri, 2016) inicia a travessia deste disco calcado na voz e no violão manemolente de Péri. Um violão de 1984, da linha Romeo 3, que serve bem à arquitetura de Meu capote sumiu (Péri, 2016) – música em que o canto de Péri adquire tom percussivo – e de Ela tá aí (Péri, 2016), samba que se movimenta veloz e serelepe tal como a menina-protagonista da canção nas andanças por cartões postais de Salvador (BA), cidade que personifica o misticismo ainda alimentado em torno de uma Bahia mais imaginada do que real. Em Ela tá aí, o canto de Péri também funciona como instrumento de percussão. O título do álbum,O eterno retorno, remete explicitamente ao homônimo conceito teórico desenvolvido pelo filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 – 1900). A Bahia arde e está viva ainda lá na alma do cantor e compositor, o que justifica a regravação de Senhora dos prazeres (Péri e Beto Pellegrino, 1997), ode à terra natal propagada como “generosa”. Nesse ciclo de ir-e-vir, em que o movimento pode ser tão somente interior, Péri parece ter feito o que o coração ditou, inclusive ao regravar o samba saudoso que Dorival Caymmi (1914 – 2008) compôs em 1947 e que gravou somente dez anos depois. Como dizem versos do samba Urubu tá de olho (Péri, 2016), “o bicho voa, mas não sai do lugar”. Sim, Péri veio da Bahia e volta para lá n’O eterno retorno.